The Germs: Dianética a Serviço da Perversão

                       

Manipulador, paranóico, sensível, temperamental, autodestrutivo, gênio. Esses são os adjetivos onipresentes que o líder do Germs e ícone punk Darby Crash recebe de quem conviveu com ele.
Nascido com o nome de Jan Paul Beahm, Darby teve uma infância difícil. Seu irmão morreu de overdose quando ele tinha 11 anos, a mãe tinha problemas mentais e seu padastro sofreu um enfarte fulminante, deixando a família em dificuldades financeiras.
 
Na adolescência ele ingressa numa escola de caráter experimental, com bases na cientologia e que o objetivo seria formar futuros líderes e personalidades influentes da América. Dentre os colegas de escola de Darby, ele estudou com Kira Roesller (futura baixista do Black Flag) e lá também conheceu Pat Smear, seu  melhor amigo e futuro membro do Germs. Darby gostava de chocar e diversas vezes aparecia de cabelo tingido de azul nas aulas, para se sentir como um negro por um dia, como ele costumava dizer. Apesar da rebeldia, ele admirava a metodologia da escola. Isso, somado com o uso constante de LSD, tornou-o obcecado por controlar as pessoas e “brincava” de fazer lavagem cerebral nos colegas. Dentre seus ídolos estavam Hitler, Charles Manson, Osvald Spengler, Nietzsche e o próprio Ron L. Hubbard (o fundador da cientologia). Também gostava do lado fascista do rock, principalmente David Bowie na fase Ziggy Stardust.
 
Darby com Alice Bag, outra figura icônica do cenário punk de Los Angeles 
Em meados da década de 70 o cenário pré-punk de Los Angeles era ainda bem ligado no glam rock e não tinha as pretensões vanguardistas do que acontecia em New York. David Bowie era deus e as Runaways foram quem mais deu certo na cidade fazendo esse tipo de som.

Darby então decide ter uma banda e depois de diversas formações, se estabiliza com ele nos vocais, Pat Smear na guitarra (nessa época ele ainda não sabia tocar), Lorna Doom no baixo (Darby sabia do marketing que era ter uma integrante mulher) e o hippongo maluco de pedra Don Bolles na bateria.
Baseando-se na música “Five years” do Bowie, Darby traçou um plano de 5 anos para sua carreira musical. Seu objetivo era se tornar um grande astro do rock e morrer. Ele afirmava querer criar um exército de seguidores, à maneira do nazifascismo. Darby bolou então um logotipo, um círculo azul, que simbolizava a natureza cíclica da vida.

Darby era bissexual mas sempre teve relacionamentos estáveis com mulheres, agindo como gigolô, recebendo delas casa, comida e dinheiro prá drogas. Sem técnica nenhuma  e viciado em todo tipo de entorpecente, suas performances eram prá lá de caóticas, lembrando a de seu ídolo Iggy Pop, envolvendo automutilação, vômitos, insultos e muita violência. Niilistas ao extremo, sacanearam o Damned numa apresentação em que abriram para eles, jogando farinha de trigo nos “ingleses mauricinhos”.
Os Germs gravaram  um único álbum em 79, chamado “GI”, produzido pela ex-Runaways  Joan Jett. A intervenção da Joan no disco é mínima, já que ela antes tinha bebido e se drogado com a banda e passou a maior parte do tempo das sessões em coma alcóolico. O resultado é um dos discos mais mal gravados da história.  Isso não impediu de GI (Germs Incognito) ser um clássico instantâneo. Sujão, abafado, mixagem pavorosa, mas com músicas muito inspiradoras e empolgantes. A falta de apuro técnico acabou dando até personalidade e um certo charme pro trabalho. Darby também era muito culto e suas letras são muito superiores a bandas contemporâneas a eles. 

Pouco depois a banda participou do documentário “Decline of western civilization”, um dos poucos materiais que se tem deles e uma das últimas coisas feitas por Darby. Ele se afundava mais e  mais na heroína e isso é bem evidente no filme.
Pouco depois, ele faz uma viagem para a Inglaterra e se apaixona pelo estilo "new romantic" do Adam & The Ants. Ele planejava dar esse novo direcionamento prá sua música. E também adotou o corte de cabelo moicano, à maneira de Adam Ant na época.

Retorna aos Estados Unidos com esses planos, mas já bastante cansado, não suportando o estilo de vida que levava e sem esperanças de se recuperar, se suicida provocando uma overdose intencional de heroína e morre em 7 de dezembro de 1980 aos 22 anos. O “Five year plan” se concretizou!  Uma curiosidade é que ele morreu no mesmo dia em que o John Lennon foi assassinado e sua morte passou despercebida.     
Com a morte de Darby e o fim dos Germs, Pat Smear ficou sumido por muito tempo  e “renasceu” depois que virou integrante do Nirvana. Logo depois virou guitarrista do Foo Fighters, permanecendo até hoje com eles  e contribuindo para a merda de banda que são. Lorna nunca mais deu as caras. Don Bolles aparece em tudo quanto é documentário e se isso é possível, a cada dia aparenta estar mais lesado. Diversas compilações e bootlegs foram lançados desde então. Em 2007 o Germs ganhou uma cinebiografia “What we do is secret” e foi descoberto por uma nova geração.
 
Cena do filme "What we do is secret", de 2007 
Darby Crash continuou muito influente, tendo inspirado bandas e artistas como Poison Idea, GG Allin e Kurt Cobain. Contraponto saudável e  necessário à fiscalização ideológica e mentalidade de gueto de grande parte do hardcore da década de 80 até os dias de hoje.

Ele afirmava que queria que as pessoas o seguissem e predisse que um dia fariam orações prá ele como para uma entidade divina. Parece que conseguiu seu intento.

Entrevista - Bandanos

Faz um tempo que não postamos nada, nós sabemos. Mas para sua alegria, voltamos com uma entrevista dos Bandanos. Aproveitamos a passagem deles aqui por Porto Alegre, na turnê do novo álbum "Nobody Brings My Coffin Until I Die" e fizemos várias perguntas.


Mas primeiro uma introdução: Bandanos é uma banda de thrash/crossover formada em São Paulo, formada em 2002. Apesar da estética e nome remeter muito ao Suicidal Tendencies, não se deixe enganar, eles estão bem longe de ser uma cópia qualquer, só dar um play que tu nota as influências de nomes como Accüsed e Corrosion Of Conformity (principalmente pelos vocais do Crisplatterhead), além de Excel, D.R.I., entre outros. Perfeito para aqueles que curtem um thrash metal das antigas e não quer recorrer ao revival retro que rolou no país, mesmo com essa intenção de ode a época, o Bandanos consegue colocar sua própria identidade e características em suas músicas.


Com dois álbuns e uma cambada de EP's e Splits com bandas como Violator, Destruction's End, Biting Socks, Toe Tag (que tem membros do Accüsed) e Blasthrash, o Bandanos já tem seu nome bem consolidado na cena metal nacional e internacional. Abaixo segue a entrevista dos caras:

Pergunta básica pra iniciar: Como a banda começou e o que rolou nela até hoje? (turnês, formações, etc.)

Marcelo Papa: Eu sou o único da formação “original”, digamos assim. Comecei a banda junto com o Lobinho (Ex- Point Of No Return), Ruy Fernando ( Ex- no Violence), Franz (Ex- War Inside) e Alessandro Soares (NOALA). Éramos amigos de longa data e em uma conversa virtual no finado mIRC, resolvemos montar a banda, meio  despretensiosamente.  Fizemos os primeiros sons com essa formação. Mas a banda era um projetão de todos. Com o tempo ela foi ficando mais séria e as formações mudaram.  Acho que a mais marcante aconteceu quando nos firmamos como quarteto, com  o Cris assumindo o vocal, depois de ter tentado tocar baixo e o Bucho (Rot/Cruelface) assumiu o baixo. Essa formação durou 5 anos. No fim 2010 o pessoal já estava meio sem pique de fazer shows, resolvemos dar um tempo e voltamos no começo de 2011 com a formação atual, que conta com Cris na voz, eu na guitarra, Lauro no baixo e Helder na batera. Desde então,  compusemos material novo, gravamos  e estamos tocando em tudo quanto é lugar por ai. Sobre tour, já tocamos quase no Brasil todo. Em 2008 fomos pra uma pequena tour de 5 shows pelo Chile e em 2009 fizemos 29 shows por 13 países na Europa. 


Muitas pessoas associam vocês ao Suicidal (bandanos, bandanas, trocadalhos do carilho e inúmeros covers), mas se analisarmos mais a fundo, o grupo tem outras influências mais notáveis como Corrosion Of Conformity, Excel e outras bandas do gênero crossover. Na hora de composição vocês já tem a mentalidade crossover ou chegam a ter influência de elementos de outros gêneros musicais? 

Marcelo Papa : A influência de ST na banda existe e é inegável, mas sempre buscamos muito mais a estética da parada, do que se preocupar em soar igual. Temos muitas influências absurdas que nem passam perto do metal. Nosso batera é pianista e adora musica clássica. Eu piro muito em Folk, Soul Music, Rap, O Cris é do Grind. Só o Lauro que é Metal TrOO mesmo e só escuta isso ...hahaah.  O fato de soar “crossover”, com o tempo de tornou natural. Acho que quando vc tem 4 pessoas na mesma sintonia e entendendo o que querem  fazer, tudo sai mais fácil. O Helder é o mais novo na banda, mas nós já tocamos juntos em outra banda de crossover 15 anos atrás. Entrosamento e estar sempre tocando, fazendo tours, ajudam demais na hora de compor tbm. 

Lauro: nossas influencias alem do crossover também podem incluir hardcore, stoner, heavy metal, death metal, thrash metal, punk e por ai vai. Dentro dessas influencias esta todo o de composição da banda. Creio que essas bandas que você citou na pergunta acima ouviram o que nos ouvimos.


E quanto as letras? Nota-se que o conteúdo lírico vai desde coisas mais sérias (Justiça das Ruas, Azul Vermelho e Branco), temas mais debochados e informais ( Urban Thrash Skate Maniacs, Te Amo Porra), como é o processo de escrita delas e como puxam esses assuntos para serem abordados?

Marcelo Papa: O Cris sempre faz as letras. Geralmente sobre situações que nos rodeiam mesmo, mas ele também curte falar de filmes de terror,  sobre as bandas que a gente cresceu escutando, como uma forma de tributo mesmo. Tudo ali, sejam as coisas sérias, ou as mais informais, são coisas que os 4 realmente concordam em ser exposto. Acho que se você tiver o mínimo de capacidade pra escrever, assuntos não faltam nessa vida que todos nós levamos. Nesse disco novo, o Cris já tinha a maioria das letras escritas. Algumas das musicas eu compus já com os temas resolvidos, e outros ele fez o contrário. Nós escutamos as bases e ele foi desenvolvendo a letra conforme o que ele “enxergava” nas bases, digamos assim; Foi o caso de Urban Thrash Skate Maniacs. 


Ainda sobre as letras, lembro de ter lido numa zine que uma certa música de vocês fala sobre um incidente no show onde colou nazistas, que incidente foi esse e qual é a música? Se importa de falar um pouco pra nós sobre isso?

Marcelo Papa: Malandro, esse dia foi tenso! “Knock Out” é a letra que saiu logo após esse fato. Em 2004, nos primeiros anos da banda,, alguns WP/Nazis colaram na porta de um Festival Hardcore, que era organizado pelo pessoal da verdurada e rolava duas vezes por ano lá no bairro Jabaquara. Esse festival bombava! No primeiro dia, eles colaram nos arredores e começaram a aloprar a molecada  punk mais nova. Pegavam as pessoas no metro ao lado, ou nos bares próximos. Isso foi informado pra gente, que estava lá dentro do show e pros organizadores do evento. No dia seguinte, já fomos preparados, pois sabíamos que os caras deviam voltar e realmente voltaram. No meio do show recebemos o relato que uma menina havia tomado porrada dos caras por estar com sua namorada nos arredores e mais um monte de gente reclamando que os caras estavam apavorando. Não contentes, eles colaram na porta do evento e tentaram forçar a entrada. Só que nessa verdurada tinha MUITA gente. Como era um festival, tinha gente do Brasil todo.  Vou te falar que a cena que mais se iguala ao fato , é a cena do filme ‘ Coração Valente”, quando o Mel Gibson grita “ FREEEEDOMMM” e todos saem pro combate! Hahahahaha... Foi todo mundo pra cima e botaram os filhos da puta pra correr. Todo o pessoal mais velho, inclusive nós do Bandanos , nos juntamos a molecada mais nova e os Nazis tomaram um preju mosntruoso. Não gosto de violência, mas conversa com esse tipo de lixo, não existe! DIE NAZIS DIE!!


Quase toda a banda tem membros straight edge, o que é algo "inédito" pra turma do Thrash, sempre rola aquele arquétipo do thrasher alcóolatra e intoxicado. Por acaso já rolou algum preconceito por tal posição ou a galera nunca ligou muito pra isso?

Lauro: O pessoal até respeita isso ai. Tenho vários amigos que são do metal junk e sinceramente, as vezes os próprios caras admiram essa postura de resistência. Claro que rola brincadeiras, mas tudo dentro do respeito.

Marcelo Papa: Comigo também sempre rolam umas piadinhas, mas no geral é bem tranqüilo. Quando alguém vem me oferecer  alguma outra coisa, eu apenas nego, não fico explicando. Mas tem gente que fica em choque, não entende, já estamos acostumados...hehehe. 


Recentemente vocês fizeram uma segunda turnê aqui no Rio Grande Do Sul, como foi rever o pessoal e conhecer gente nova? Contem mais sobre a experiência:

Lauro: Cara o sul sempre nos acolheu de forma impressionante. Nos sentimos tão a vontade que parecemos membros da família.

Marcelo Papa: Acabemos criando alguns amigos importantes por ai. Laura, Amanda Paz, e Renato CxFxCx  são alguns deles. Com o Renato, mantemos sempre contato, ele  tbm já fez um clipe pra gente e outro está por vir. Nessa ultima passagem, conhecemos o pessoal do Studio Navarro e vimos muitas afinidades também. Nos cederam a casa pra ficar e estamos mantendo contato sempre. 

Já que falamos da cena no RS, que vocês já sabiam das bandas daqui, já gostavam de alguns grupos? Quais grupos curtem e tal e se conheceram alguma banda nova nessa turnê que impressionaram?

Lauro: tem varias bandas ai no sul que são fodas. Dessa ultima vez conheci o Chute no Rim e o Charlar que me impressionaram. Ainda não tinha tido a oportunidade de conhece-los e agora pude curtir de perto. Cara nesse turne achei foda uma banda de Brasilia chamada Dead End. Em Joinville assistimos um show de uma banda chamada Zombie Cookbook, muito foda, pik death metal old school.

Marcelo Papa: Eu cito o “DCH”, de Bastos, interior de SP. Molekada com aquele sangue no olho que a gente tinha quando começou. Pelo mesmo motivo, cito o “George Romero” de Mato Grosso do Sul, grandes pessoas que movimentam as cenas locais. O “Reiketsu” tbm é uma banda que me impressiona todas as vezes que eu vejo. 


O Bandanos já teve também uma certa fama fora do metal, o curioso caso do Cão Zeca. Aos que não sabem, o Cris pode explicar a história e se rola ainda uma galera que se comove com essa história após tanto tempo. Aliás, ia rolar um projeto sobre um livro com essa história, não?

Cristiano: A historia envolvendo o Zeca, foi algo muito louco. O prédio onde moro sofreu um arrastão, onde vários apartamentos foram roubados, coisa de filme mesmo. O Zeca, meu cão, acabou sendo levado junto como se fosse mais um  produto do roubo. Nem eu mesmo consigo explicar todo o “fenômeno” que aconteceu. Eu compartilhei a história toda num post “desabafo” no facebook e assim tudo começou... Esse post e essa foto chegaram a mais de um milhão de compartilhamentos e os veículos de comunicação começaram a entrar em contato comigo e todo mundo queria saber da história. Eu acabei aparecendo em todos jornais e canais de TV para contar isso. Enfim, foram 7 dias de agonia e tortura de ficar sem meu filho canino, mas infelizmente devo admitir que o poder da TV nesse caso foi decisivo, pois graças a uma denuncia anônima a policia chegou até o cachorro que estava  a dezenas de quilômetros da minha casa, em um bairro totalmente afastado e ele acabou voltando. Não creio que isso tenha ajudado o Bandanos de alguma forma, mas as pessoas acabaram associando minha imagem a da banda. Tinha a ideia do projeto do livro sim, chegou a ser desenhado, mas demorou muito e acabou não vingando, pois a história já havia sido esquecida.



Cris Splatterhead, como tu és personal trainer e ligadão na academia, tenho que te perguntar: Léo Stronda ou B - Dynamitze?

Cristiano: Não acompanho nenhum dos dois, mas sei do que se trata, acho que o Stronda foi algo mais de caso pensado, meio jogada de marketing mesmo, o outro mano foi por acaso, nem ele imaginou que se tornaria “ícone pop” dentro do meio da musculação. Tem o lado bom e ruim dessas figuras, que seria a popularização da cultura e estilo de vida dos praticantes de musculação e atletas, mas acho que a maioria das coisas que eles devem dizer, é  um monte de abobrinhas...haha. Como disse, não sigo e nunca assisti nenhum dos dois.  O assunto pra mim é muito sério, é meu trampo e eles não trazem nada muito novo em relação ao que vivo todos os dias. Treinamento é uma ciência, coisa séria e que poucos realmente dominam e sabem o que estão fazendo, logo esse tipo de abordagem que eles praticam, as vezes polui o ambiente com falsos conceitos e ideias ruins.


Agradeço ao vocês pela entrevista e deixem seu recado final aqui:

Marcelo Papa: Muito obrigado pela entrevista! Somos grandes fãs das mídias independentes e se não fossem por elas, não teríamos nem metade da cultura underground que adquirimos hoje em dia. Siga firme! Grande a abraço pra você e pra todos que estão lendo. 

Fique abaixo com um vídeo especial que eles fizeram recomendações pra galera:



Para saber mais de Bandanos, acesse:
www.facebook.com/bandanoscrossover (facebook)
@bandanoscrossover  (instagram)
Bandanos.bandcamp.com (bandcamp)

Earth: Imprimindo no método infernal

                           

Capitaneada por Dylan Carlson, o Earth foi formado na cidade de Olympia (vizinha à Seattle) no início da década de 90. Sem vocalista e tendo como base a guitarrra minimalista e viajera de Carlson, a banda soa como um alienígena, sendo difícil de classificá-la em qualquer ‘cena musical’.

O nome ‘Earth’ foi escolhido porque esse foi usado pelo Black Sabbath em seus primeiros dias. Lembrando que a  banda de Toni Iommi era cultuada em níveis obsessivos na região noroeste dos Estados Unidos por esse período.  Mas apesar da inegável adoração,  eram  diferentes de qualquer coisa stoner ou doom. Colocando drones em evidência como nenhuma outra banda de rock pesado havia feito antes, criaram um novo estilo musical, que já foi rotulado de Ambient metal, Drone metal e Drone doom.

Os drones, que  são notas, acordes ou progressões  repetidos à exaustão para criar um efeito hipnótico,foram usados pela primeira vez pelo compositor minimalista La Monte Young nos anos 50.  No universo metálico, o próprio Black Sabbath e os Melvins foram os que mais utilizaram desse recurso, porém não como razão de ser do seu trabalho.
Dylan Carlson (de pé) , Kurt Cobain e Mark Lanegan: Bonde da Orgia de Travecos
O primeiro trabalho, o EP “Extra-Capsular Extraction”, já chama muito a atenção pela ousadia  da proposta, percebendo-se combinações bem díspares: riffs na linha Sabbath, o estrondo dissonante do Throbbing Gristle,  longos improvisos guitarrísticos à Neil Young e o space rock de grupos como Hawkwind e Pink Floyd . Nesse disco há a participação de Kurt Cobain fazendo alguns vocais e guitarras. Dylan era um dos melhores amigos de Kurt. Ironicamente foi quem vendeu a ele a  arma usada em seu suicídio.


O próximo lançamento, "Earth 2" é o ápice do radicalismo sonoro adotado pelo Earth. Feedback e distorção sem trégua nas três faixas que compõem o disco, que soam como se  o Melvins estivesse fazendo uma versão de ‘Sister Ray”,do Velvet Underground..  Earth 2 é considerado pela crítica como seu disco mais importante e definitivo.


Em 1996 vem  um disco com estrutura mais convencional, "Pentastar: In the Style of the Demons" , com clara influência grunge. A densa e robótica  faixa de abertura entrou na trilha sonora do filme ‘Kurt and Courtney’, em que o próprio Dylan Carlson aparece dando entrevista em estado lástimável, com feridas na pele e fala desconexa. Ele passava na época por um pesado vício em drogas.
Dylan Carlson em "Kurt & Courtney"
Por conta dos problemas de Dylan,  passam quase 10 anos sem gravar. Somente em 2005 vem  “Hex; Or Printing in the Infernal Method”, que marca um novo direcionamento artístico, saindo um pouco do barulho  e seguindo com uma maior preocupação em criar música mais climática, começando a mostrar forte  influência de country, folk e jazz. As trilhas sonoras de filmes  ‘western spaggheti’ e a clássica abertura do seriado Twin Peaks são as primeiras coisas que vem à cabeça ao ouvir esse álbum.


O duplo “Angels of darkness, Demons of light” inova ao incorporar violino à sonoridade do grupo e que miraculosamente não atrapalha o som da banda. Dai para frente passam a contar com uma violinista em turnê.  

Seu último lançamento até agora,  “Primitive and deadly”, saiu  no ano passado , tendo vocais em algumas faixas, dessa vez o convidado ilustre sendo o Mark Lanegan.  Disco maravilhoso. Destaca-se também a arte de capa do lp, uma das mais bonitas deles, que sempre capricharam muito nesse quesito.


Com Dylan Carlson sob controle, excursionando e lançando  álbuns muito bem recepcionados por fãs e crítica, o Earth colhe hoje um pouco do reconhecimento que sempre lhe fora devido. Só nos resta torcer (e assinarmos muita petição on-line) para que façam uma turnê aqui.


World Damnation - três faces do metal extremo gaúcho


Recentemente me mandaram o three way split (para os que não sabem, é um album no qual o repertório é dividido por mais de uma banda, não confunda com coletânea). O split conta com três bandas gaúchas: Impetus Malignum, Natural Chaos e Human Plague. Hoje farei um rápido comentário desses grupos e seus respectivos setlists no disco, desfrutem:

NATURAL CHAOS


Formado em 2007, a banda de Porto Alegre conta com quatro membros: Sidney "Sapão" Benites no baixo e vocais, Carlos "Indulgence" e Anderson "Gt" nas guitarras e Paulo Peixoto na bateria. O quarteto faz uma mescla de death/thrash bem velha escola, na linha de nomes como Morbid Angel, Sepultura e Slayer. Detalhe que o grupo gravou todas as músicas num home studio próprio, com uma produção bem interessante e que remete bem ao metal extremo old school.

No split, já abrem com a canção Carnage, com blast beats e palhetadas alternadas acompanhando os guturais gravíssimos de Sidney, foi impossível não se lembrar de Incantation escutando esse som. Em seguida chega Sacrifice Of Consciousness, que já começa com um riff bem memorável e skank beats, perfeito para iniciar um mosh ou circle pit. Pra encerrar sua participação no split, a faixa Chaos é facilmente é mais rápida e agressiva das três, com bastante influência do Sepultura velha escola e Massacre.


Em comparação ao que é visto na cena gaúcha, o Natural Chaos sem dúvida tem um apelo forte pro Death Metal Old School. As três faixas tem uma média de 5 a 6 minutos, mas as mudanças de tempo, peso e riffs pegajosos deixam o ouvinte interessado. Com certeza um contraste legal, pois quem conhece a cena por aqui nota que o Death Metal está bem cheio de bandas técnicas e velozes que buscam ser o novo Krisiun, logo bandas como essa que usam de tempos mais lentos de vez em quando são sempre bem vindas.


HUMAN PLAGUE


Formado em 2011, o grupo de Santa Maria é a banda mais "nova" que consta no split. O álbum abre com Below The Nothingness, com um riff mais cadenciado e bumbos duplos pesados, nota-se que eles têm mais influência nas bandas de death da cena européia (essa canção no caso me lembrou bastante Hail Of Bullets). Em seguida Silent War continua com uma linha um pouco mais melódica e o pedal duplo ataca novamente, dessa vez se nota uma forte veia de death metal sueco na linha do Unleashed, sem falar do belíssimo solo que acompanha esse som. 

Por último, entra a faixa Hate Celebration, que inicia com sirenes, teclados e o som de marchas e metralhadoras, que dão entrada ao som mais pesado e agressivo da parte deles nesse split. Pura bateção de cabeça e a faixa se encerra com blast beat, pedais duplos e mais velocidade, o que contrasta com o setlist que apresentavam, uma bela surpresa.


No fim, o Human Plague apresenta um Death Metal mais na linha das bandas européias dos anos 90/2000, a produção é bem limpa e clara, músicas bem cadenciadas e lentas. Dou um destaque pra faixa Silent War e seu solo realmente sensacional!

IMPETUS MALIGNUM


Sem dúvida a banda mais experiente nesse split, o grupo de Porto Alegre já tem 2 álbuns e bastante splits no currículo. Tocando um black metal na linha das bandas da segunda onda como Marduk e Gorgoroth, eles são responsáveis pela parte mais caótica e massacrante de ouvidos nesse split. Já iniciando o massacre com Slave Of Prophecy, atacando o ouvinte de surpresa com blast beats e palhetadas alternadas invocando melodias sombrias. 

Em seguida entra Storms Of Fire, com uma pegada bem war metal no estilo Goatpenis e Impaled Nazarene. O assalto continua com Death Ride, com um refrão pegajoso pra caralho, logo o setlist se encerra com Vatican Judgement, com uma produção mais lo-fi e arquetípica do gênero, porém os riffs e solo nessa faixa de encerramento são ótimos, também é a música  mais variada do repertório deles.


Impetus Malignum apresenta o repertório black metal pós 90's que interessa aos fãs de grupos como Marduk, Gorgoroth, Endstille, Impaled Nazarene e afins. Única reclamação que eu teria é que se nota que as quatro canções foram gravadas de formas diferentes, porém mesmo com as mudanças notáveis de produção, isso não desvaloriza o peso das músicas. Meu destaque fica pra faixa Vatican Judgement.

Bem, esse foi o three way World Damnation, representa três facetas diferenciadas do metal extremo gaúcho. Todos os grupos tem seus diferenciais aqui na cena local, o split é recomendadíssimo para os fãs dos respectivos gêneros. Vocês podem adquirir sua cópia nos distros que o lançaram: Petrol Music e Rock Animal.

O Ruído Sinestésico do Oxbow

                                     

O Oxbow foi formado na Califórnia no final da década de 80 e é um dos combos mais atípicos e extraordinários já surgidos. Liderado pelo vocalista negro, praticante de luta amadora e também escritor Eugene Robinson, conseguiram a partir da herança de bandas barulhentas como Big Black e Birthday Party criar uma sonoridade bastante particular.  Sua música muito visual e a versatilidade da voz de Eugene, dão a sensação de estar  dentro de um filme ou jogo de realidade virtual.  Poucos conseguem abordar musicalmente sentimentos conflitivos  de forma tão talentosa quanto o Oxbow: ataques de fúria desesperada alternam-se com atmosferas melancólicas, sinistras e sexy com uma naturalidade que impressiona. É música para pessoas fortes, já que não pegam leve em nenhum momento com o ouvinte. O próprio nome da banda, que em inglês significa “jugo” ajuda a  dimensionar essa proposta.
 
                                

Estrearam em disco em 1989 com “Fuckfest”, em que as letras foram retiradas de um bilhete de suicídio escrito por Eugene. O disco, que começa dando uma falsa impressão de ser um Bad Brains fase Quickness (a primeira música, "Curse") mostra o que seriam os álbuns seguintes: forte influência de jazz, tensão, punch brutal e transtorno bipolar. Dizer que Eugene é um Henry Rollins negro é justo. O gosto pela maromba, spoken words e a necessidade de provocar seu público são características de ambos os vocalistas (Eugene, tira as roupas durante as apresentações, terminando por ficar só de cueca; e não poucas vezes já saiu na porrada com seu público). Acrescento dizendo que o Oxbow é tudo o que a Rollins Band quis ser musicalmente, mas nunca conseguiu. Sorry, Mr. Rollins.
 
                                  

“King of the jews”, o próximo lançamento tem na capa uma foto do cantor e ator Sammy Davis Jr. Sammy, judeu negro que teve uma vida no geral bastante trágica e figura controversa (dentre as muitas curiosidades, era membro da Igreja de Satã) representa bem o espírito do Oxbow.
 
O "Rei dos Judeus" 
Mais quatro álbuns se seguiram: “Let me be the woman” (título sugestivo!), “Serenade in red”, “An evil heat” e “The narcotic Story”. Todos peças magistrais e que valem tudo serem ouvidos. Trabalhando em cima de temas ligados quase sempre ao amor que sempre vai embora ou mesmo que nunca aparece, o som  é faca na carne como poucas vezes foi feito. Participações especiais de gente como Lydia Lunch e Marianne Faithfull dão uma pista do nível de qualidade do grupo.
 
                              

                              

Falando de gente famosa, Eugene Robinson participou do projeto Black Face, com o ex-baixista do Black Flag  Chuck Dukowski.

O Oxbow promete disco novo ainda para 2014 e já tem até nome “The Thin Black Duke”, uma referência ao personagem, “Thin White Duke” do David Bowie. Podemos esperar por mais cinco dedos no meio do cara de pura categoria e brilhantismo.
 
                                   

Masters of Reality: Plebéias da Idade da Pedra


Há muito tempo lia em um lugar ou outro sobre o Masters of Reality, mas por algum motivo nunca havia tido interesse em conhecer a tal “banda de stoner rock do Chris Goss”, que para quem não sabe, é o produtor de grande parte do material do Kyuss e do Queens of The Stone Age. O possível motivo desse meu desdém é que bandas do estilo  se multiplicaram aos milhares e como o estilo se baseia em soar vintage e reverenciar uma época, acabam muitas vezes se limitando ao que já foi feito e resultando em trabalhos previsíveis e irrelevantes. Para cada banda com personalidade que aparece, há dezenas de milhares de bandas que não acrescentam absolutamente nada e que a característica retrô soa forçada. Bom, esse não é mesmo o caso do Masters of Reality. Há alguns meses, por encontros felizes que só o acaso traz, tive contato com o trabalho deles, em links do youtube e fiquei totalmente bestificado pela excelência e identidade do som. Não é exagero dizer que são um dos segredos mais bem guardados da história do rock. 
 

A banda foi formada em New York no ínicio da década de 80 e ainda existe, tendo durante todo esse tempo diversas encarnações, sendo que o único integrante que permaneceu em todas elas é o já citado Chris Goss, que é seu líder, vocalista, guitarrista e mentor espiritual. Goss tirou o nome da banda do  título do 3º álbum do Black Sabbath, que é considerado como o marco zero do stoner.
 
Com uma sonoridade que nada tinha a ver com a década de 80, dominada pelo glam, só foram gravar seu debut em 1989; graças a uma demo que caiu nas mãos do sabbathmaníaco Rick Rubin, que se interessou em produzi-los. O resultado é uma estréia sensacional. O álbum, autointitulado, tem riffs e mais riffs empolgantes e cheios de groove que beberam da fonte dos primeiros trabalhos do Led Zeppelin e do Experience do Hendrix, mas que não soam como cópias ou requentados. Goss é um grande criador de melodias assobiáveis, bem no estilo Beatles, que é uma das maiores qualidades do som, o que faz as músicas soarem bem diferentes entre si. Outra coisa que chama muito a atenção é a semelhança dos vocais de Goss com os do Josh Homme (que claramente surrupiou seu estilo vocal), o que faz parecer por diversas vezes que estamos ouvindo o QOTSA. Conseguiram um mini-hit com esse disco, “Domino”, que entra na trilha sonora do filme “Marcado para morrer” do astro de filmes de ação Steven Seagal.
 

Com as conexões no meio musical do Chris Goss, trazem  para o segundo álbum, “Sunrise to sufferbus”  a participação do lendário baterista do Cream, Ginger Baker;  que não chega a sair em turnê com eles. O som fica um pouco mais blues que no primeiro álbum fazendo lembrar em alguns momentos o protometal da ex-banda de Baker.  Mas “Sunrise...”  está no mesmo nível de qualidade do anterior. Isso prá não dizer que o resultado ficou ainda melhor e que talvez seja seu melhor disco. Impecável.
 

Mais concentrado na carreira de produtor que paralelamente desenvolvia com o Kyuss, Chris Goss passa a primeira metade da década de 90 deixando o Masters of Reality em segundo plano, gravando materiais esparsos (que mais tarde seriam compilados no disco “The Ballad of Jody Frost”) e fazendo poucos shows.
 
Masters com Ginger Baker (à esquerda)
Em 97 o MOR retorna com o menos inspirado “Welcome to western lodge”, e em 2001 com o noiado “Deep in the hole”. Esse último tem participações de Josh Homme, Nick Oliveri e Mark Lanegan, que então estavam no auge da drogadição e com isso percebe-se a mudança da banda dos climas mais up para coisas mais melancólicas e cheias de paranóia, principalmente nas faixas com participação do Lanegan. Dessa turnê vem também um dos melhores álbum ao vivo já gravados,"Flak n' Fight" que transmite muito bem o clima caótico, poderoso e imprevisível  das apresentações. Mal comparando, lembra um pouco a psicodelia sujona e o clima de insanidade do também ao vivo “Space Ritual”, do Hawkwind.
 

Em seguida temos o lançamento de "Give us Barabbas", que é uma compilação de várias músicas já gravadas pela banda num formato mais acústico. Um belo disco, mas que destoa um pouco dos anteriores.
O último disco gravado, “Pine Cross/Drover” retorna ao caminho do peso e é  também um trabalho bem interessante, mas sem maiores destaques.
 
Nick Oliveri, Chris Goss e Josh Homme
Com no mínimo quatro obras-primas e o restante variando de bom a excelente, vale a pena conhecer toda a discografia deles. Goss continua bastante ativo e participando de um milhão de projetos, o último deles do disco de estréia do Mojave Lords (nova banda de seu amigo Dave Catching e o melhor lançamento de 2014, até agora).
 

O Masters of Reality serve de inspiração não só para fãs de stoner ou mesmo de rock, mas de todo fã de boa música. É um tipo de pureza e autenticidade raras num universo que a cada dia se torna mais venal.

O Subsolo Underground Gaúcho


Primeiramente olá, eu me chamo Emerson Folharini e sou o novo integrante do blog, no meu post de estreia vou falar um pouco de uma época em que a K7, a troca de cartas, o zine e as gravações feitas em garagens com microfonia prevaleciam, e a partir disso elencar aqui 5 bandas fundamentais dentro da cena gaúcha que surgiram na década de 80 no interior do Estado, mas infelizmente não duraram muito, mas foram de suma importância para a proliferação do gênero não só no Rio Grande do Sul, mas em todo o Brasil, sendo também reconhecidas mundo a fora. É importante ressaltar a violência e agressividade na sonoridade dessas bandas pois na mesma época em Porto Alegre víamos crescer uma "cena" calcado no Heavy Metal clássico, onde tirando o primeiro álbum da Panic, prevaleciam bandas como Astaroth, Leviaethan, Valhala, Virgem Atômica e afins, com seus clichês do gênero. Não sei ao certo o motivo que podemos atribuir para esse fato, talvez pelo fato de essas bandas estarem deslocadas do meio metropolitano e logo o material que chegava até eles acabava por ser diferenciado, uma vez que para obtê-lo o trabalho era redobrado, mas enfim chega de especulação e sem mais enrolação, vou falar agora dessas bandas que calçaram o subterrâneo underground que hoje todos nós compomos: 

Mausoleum
 

Banda proveniente de Santa Maria, talvez tenha sido a primeira banda de Death Metal do Rio Grande do Sul, tendo sido fundado em 1986 e encerrado suas atividades em 1987, com uma linha de som que seguia o que vinha sendo feito em Minas Gerais praticamente de forma simultânea com bandas como Sepultura, Sarcófago, Holocausto e afins, traz as influências clássicas de bandas como Hellhammer, Venom e Vulcano, pelo pouco tempo de duração da banda e dificuldades da época infelizmente acabaram não deixando nenhum registro oficial, sendo as únicas referencias que possuímos hoje são dois shows e um ensaio gravado em bootleg.

 


Dissector  
 

Banda proveniente de Pelotas, começou suas atividades em 1986 e encerrando suas atividades nos em meados de 1991, pode se dizer que foi uma banda a frente de seu um tempo uma vez que praticava um som muito similar ao que hoje conhecemos como grindcore, a banda se intitulava na época como uma banda de "Blackcore/Deathcore", pela mistura das linhas de Death Metal, Black Metal Old School com a do próprio Hardcore, sendo influenciada por bandas como Occult e Hellhouse. Além da música é interessante também comentarmos o fator pitoresco que envolve o guitarrista da banda, Claudio "Sepulchral" Reitter, o qual virou um personagem da "cena gaúcha" devido as histórias que envolvem sua figura, após a Dissector teve várias bandas que seguiam uma linha mais goregrind, tocando inclusive na clássica banda de grindcore Necrose, além de se envolver em polêmicas devido as letras que compunha, as quais iam da misoginia ao extremo niilismo. A Dissector deixou 3 registros em demo tape e um bootleg de show.
 

 Dark Butcher
 

Outra banda de Santa Maria, a banda teve curto período de atividade também de 1989 a 1990, tendo surgido durante os intervalos dos ensaios da Nuctemeron, com Jorge "Angelripper" nos vocais e Daniel "Deathammer" na guitarra e Agnaldo "Pussyfucker" na bateria, sendo essa uma das primeiras bandas do grande Agnaldo Gomes, vocalista da Serpent Rise, conceituada banda de Doom Metal gaúcho do fim da década de 90, seguia a linha “blackcore” como a Dissector e outras bandas da época como a própria Nuctemeron, Necrobutcher (SC) e Necrovomit (SP). A banda gravou duas demos ensaios.

 
Nuctemeron
 
  

Banda de Santa Maria, tendo surgido da já citada Mausoleum, talvez a Nuctemeron tenha sido uma das bandas do interior do Rio Grande do Sul que tenha sido mais visualizada dentro da cena underground oitentista, devia a demo-tape lançada em 1990, Industrial Polution, a qual além da mescla dos elementos do hardcore com a clara influência de bandas como Sodom e Destruction, tem o incrível tempo de duração de apenas dois minutos e quarenta e dois segundos, algo totalmente precursor para o gênero na época, tendo em vista o que as bandas da época estavam aplicando em seus sons, além dessa demo a banda possui mais 3 demos de ensaio e recentemente uma coletânea lançada no Paraguai, trazendo todas suas demos em CD.
 

Apostasia 
 


Bem para finalizar o post, vou trazer uma banda que além de sua importância para a cena da música extrema do Rio Grande do Sul é uma das minhas bandas favoritas, a Apostasia é proveniente de Farroupilha, sendo fundada em 1989, tendo encerrado suas atividades pela metade da década de 90, tendo sido a primeira banda do Estado a usar blast-beats em suas músicas, como uma clara influência tanto musical quanto visual de bandas como Sarcófago e Sextrash, a banda tem suas 2 primeiras demos uma aula de death metal old school, sendo a segunda Weakening the System's Manipulators, um clássico absoluto. Em 1991 a Apostasia venho a gravar seu último registro, sendo que nesse a banda acabou mudando a sua linha de som, beirando o grindcore, com letras de contestação em músicas curtas e diretas, mas independente disso eles podemos dizer que eles são um clássico absoluto do underground obscuro.
 

Sérgio Sampaio: Não há nada mais bonito do que ser independente



A trajetória musical de Sérgio Sampaio é das mais inusitadas dentro da nossa música popular, ou impopular, como queiram. Incompreendido na época em que viveu, a cada dia ganha mais fãs e admiradores via internet. Entrando no inconsciente coletivo popular com um hit bombástico (“Eu quero é botar meu bloco na rua”, de 1972) e nunca mais conseguindo repetir o êxito ou mesmo manter uma carreira regular, ganhou o título de “maldito” tanto pelos excessos etílicos/cocainômanos quanto por uma poesia que privilegiava os aspectos mais sombrios da vida e da humanidade.
 
Filho de pai maestro, cantor e compositor, Sérgio desde cedo teve interesse por música. Seu relacionamento tempestuoso com o pai marcou toda sua vida e carreira. Isso mais o isolamento geográfico (capixaba de Cachoeiro de Itapemirim, terra do Roberto Carlos e longe  dos grandes centros culturais) podem dar uma pista das origens da personalidade hedonista e arredia do artista.
 
Sociedade da Grã Ordem Kavernista
A grande guinada na vida de Sérgio foi sua mudança para o Rio de Janeiro no final da década de 60 , onde conheceu as melhores mentes da contracultura nacional e virou hippie. Tendo gravado alguns compactos e dono de uma imagem bastante dropout chamou a atenção do até então produtor musical Raul Seixas. Raul gravava artistas bregas e românticos mas queria desesperadamente fazer um disco anárquico e avant garde, nos moldes do que o Frank Zappa havia fazendo lá fora. Além de Sérgio, Raul também recrutou uma bichona, Eddy Starr; e uma sambista de interpretação nada convencional, Miriam Batucada. O quarteto gravou o  antológico “Sociedade da Grã Ordem Kavernista”, um dos grandes tesouros perdidos do nosso udigrudi.
 
Raul Seixas e Sérgio Sampaio durante a gravação do primeiro álbum-solo de Sérgio
A amizade de Raul com Sérgio rendeu muita bebedeira, pó e putaria pelas ruas do Rio de Janeiro, com Raul uma vez afirmando que perto de Sérgio Sampaio, ele se sentia um coroinha. Além disso Raul Seixas também produziu o primeiro LP solo de Sérgio, “Eu quero é botar meu bloco na rua”, que aproveitava o título do compacto de sucesso lançado por Sérgio um pouco antes . É o disco mais rock dele e também o mais instantaneamente fácil de gostar.  A base musical de Sérgio Sampaio eram o samba e os boleros de Nélson Gonçalves mas o resultado rock ficou orgânico, como mostram a mais raulseixista do disco, “Viajei de trem”, repleta de imagens poéticas drogadas e a empolgante “Filme de terror”, primor de interpretação, letras e arranjos. Há também influências do  Caetano Veloso tropicalista por todo o álbum, como em “Leros e boleros”. Sua relação de amor e ódio com seu pai rendeu duas obras-primas: a misógina “Cala a boca, Zebedeu”, regravação do velho e “Pobre meu pai”, um acerto de contas com o passado dos mais dolorosos. A capa também chama atenção, com Sérgio posando de vampiro andrógino e o logotipo do seu nome em vermelho pingando sangue. Sérgio, grande fã de Edgar Allan Poe, Baudelaire, Augusto dos Anjos foi talvez nosso maior gótico.
 

Em 1976 mais um disco, “Tem que acontecer”, em que a faixa-título é uma lamentação a mais um fim de relacionamento amoroso fracassado (ele teve muitos). Esse disco é mais ligado ao samba e à tradição dor de cotovelo. “Velho bandido” é a grande obra-prima do disco, onde não se sabe onde termina o personagem e a persona do próprio Sérgio.  
 

Somente em 1982 é que ele gravaria  um novo LP, chamado de “Sinceramente”, um disco menos carregado emocionalmente e que pode ser interpretado como uma tentativa de sobriedade (“Homem de 30”). Lançado de forma independente, é um disco, mais intimista que os anteriores e cheio de grandes pérolas (“Nem assim”, “Tolo fui eu” , o lindo arranjo de sintetizadores de “Meu filho, minha filha”...).
 

“Sinceramente” foi também seu último LP, passando daí por diante a sofrer cada vez mais as consequências de uma vida de excessos e é também o momento mais crítico de sua decadência. Fazendo shows esporádicos (Sérgio não tinha organização para gerir sua carreira) e mergulhando em vícios e paixões, lançava materiais esparsos. Apesar disso, planejava seu grande renascimento das cinzas, o que nunca aconteceu. Bastante irregular, alternava grandes êxitos, lotando algumas importantes casas de show pelo Brasil e outros de miséria, necessitando da ajuda de amigos e parentes para sobreviver.
 
Sua situação com as drogas o levaram a sucessivas internações. A última foi em 1994, em que morreu de pancreatite aguda.
 

Deixou considerável material inédito gravado, que é compilado por Zeca Baleiro e se transforma no CD “Cruel”como tentativa de manter viva a memória do artista e que contém também algumas de suas melhores músicas, como “Roda Morta”, uma de suas mais conhecidas e apreciadas.
 

Em tempos de trabalhos musicais rasos e ralos, ouvir algo tão denso e pungente tem efeito devastador, pro bem e pro mal. Qualquer tempo gasto com Sérgio Sampaio não é em vão. Autoral, entregou a alma como poucos e  fez sua música ter outra dimensão.  Não fazendo concessões e não dando trégua ao ouvinte, é um dos contatos mais íntimos através da música que se possa ter. É o máximo que podemos suportar de treva e beleza.

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Catharsis - Quando o hardcore se torna épico...


Dessa vez no Bad Music farei um post de uma banda que acho deveras especial, falaremos de um grupo de músicos que deu um novo molde ao hardcore, vamos falar dos americanos do Catharsis. O grupo é conhecido pela participação de alguns membros no coletivo anarquista Crimethinc, que lança discos e livros independentemente, além de manifestos sobre liberdade individual. Como tenho pouco conhecimento sobre o material desse coletivo, pretendo focar esse post apenas na banda e sua musicalidade, vamos lá então:


Formado em 1994 em Chapel Hill, Carolina do Norte, o grupo constava com Brian Dingledine nos vocais e Alexei Rodriguez nas baquetas, além Mark Dixon e Christopher Higgins assumindo baixo e guitarras respectivamente. Com essa formação gravaram a demo Fall, que já demonstrava uma mescla de hardcore com timbres e andamentos mais típicos do metal. Depois de mudanças na formação, foi gravado um EP em 1995 e um álbum em 1996, ambos tendo o nome da banda como título. 


Nesses trabalhos nota-se que uma evolução no som do grupo, os vocais de Brian estão cada vez mais rudes e tendendo aos guturais ao invés de meros gritos típicos da cena na época, Alexei já começou a fazer linhas de baterias com bastante bumbo duplos. Nas influências de notam toques de Integrity, Starkweather, His Hero Is Gone, Breakdown (o qual fazem um cover) e até mesmo Amebix. Depois mais mudanças ocorreram na formação e assim começam as gravações do seu segundo álbum: Samsara



Samsara saiu em 1997 e já chama a atenção na primeira faixa, com um canto de ópera e pianos seguidos de um feedback, seguido da faixa Exterminating Angel, com isso já notamos que o Catharsis demonstra uma evolução sonora gigantesca. A ausência de refrão, mudanças de tempos, trechos em spoken word, blast beats e pedais duplos. As letras de Brian contem letras apocalípticas com mensagens políticas e anarquistas sobre a sociedade, ambiente e as transgressões que certas evoluções causam. Outro detalhe curioso nesse álbum é a existências de faixas com mais de 6 minutos (o que é absurdo quando falamos de hardcore), e nessas composições nota-se um quê de Neurosis.


Depois de Samsara, o grupo lançou o split Live In The Land Of The Dead que tem duas versões: uma com os americanos do Gehenna, outra que saiu numa colaboração com o selo brasileiro Liberation na qual eles dividem o split com os paulistas do Newspeak. Ambos os splits contem as mesmas canções ( The Sacred and Profane, What The Thunder Said e a arrastadíssima e atmosférica Unbowed).


Em 1999 o grupo lança seu terceiro álbum, Passion, dedicado ao guitarrista Dan Young que morreu durante as gravações. Agora o som está completamente amadurecido, as epopéias hardcore que seviam em Samsara atingem seu ápice aqui, faixas divididas em partes (como as dobradinhas Passion.../...Obsession e a Threshold com Duende). Faixas extensas, riffs arrastados, mais trechos declamados e até mesmo a existência de um reggae para quebrar o clima apocalíptico do álbum, Deserts Without Mirages, na qual Brian diz ser influenciado por Peter Tosh, além da canção ter declarações de uma música de Goodspeed You! Black Emperor. O álbum se encerra com a obra prima Sabbath (The Dervish Dance), uma obra quase esotérica e sampleando uma canção folclórica búlgara.


Após esse álbum, em 2001 o grupo gravou suas duas últimas canções  Arsonist's Prayer e Absolution, a primeira foi usada para um split com o grupo de post hc húngaro Newborn, enquanto a segunda nunca foi terminada, pois a banda encerrou as atividades. Em 2012 Brian Dingledine e Jimmy Chang gravaram os vocais e guitarras que faltavam em Absolution, em 2013 a banda se reuniu para fazer apresentações e lançaram o box-set Light From A Dead Star, contendo toda discografia da banda. Não se sabe se a reunião gerará um disco novo, mas os fãs ficam na expectativa. Veja um dos shows de reunião abaixo:


E ficamos por aqui, nos vemos no próximo post!

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