Integrity - Os pregadores do hardcore apocalíptico (parte 3): De volta aos trilhos e as eras Jochum/+Orr


E finalmente chegamos a última parte desse post especial, agora abordando o momento atual de Dwid e sua trupe de terroristas musicais (pra quem não viu as partes I e II, só clicar aqui e aqui), lembrando que boa parte dos discos estão para downloads no site da Holy Terror records aqui neste link. Agora, vamos ao final:


Após a pausa com a turnê de To Die For, o Integrity se reúne em 2005, nessa formação, Michael Jochum chama seu irmão Nathan para assumir as baquetas, enquanto Matt Brewer e Steve Rauckhorst fariam guitarras e baixos respectivamente. Essa nova era demoraria 5 anos para lançar o disco The Blackest Curse, que saiu em 2010 pela Deathwish.


Considerado o mais pesado e o trabalho mais aproximado ao metal, o álbum é completamente bruto, com uma influência absurda de Thrash Metal, além de faixas noise e a balada épica Before the VVorld VVas Young, nomes como Boyd Rice fazem aparições no disco. Os destaques ficam pra porradas como  Simulacra (as viúvas de Jeff Hanneman piram) e Process Of Illumination. Alavancas, bumbos duplos, palhetadas alternadas e alguns blast beats serão o que lhe esperam em The Blackest Curse.


Com o sucesso do retorno e o novo disco, logo após saiu o EP VValpurgisnacht, que aposta mais nas melodias e músicas um pouco mais lentas se comparadas ao que foi feito anteriormente, porém algumas das melhores letras da banda podem ser vistas aqui.


Nesse meio tempo, Matt sai da banda e no seu lugar entra um garoto chamado Robert Orr, que tocava numa tal de Unreal City. Esse jovem fã da banda e também multi instrumentista, seria uma peça chave para o que o Integrity seria hoje. Com sua entrada foi gravado o split com a banda japonesa Creepout e o novo "hit" Love is... the Only VVeapon/Let the night Roar, no qual vemos outra evolução. Com arranjos mais puxados para o metal punk japonês do GISM e a crueza black metal das bandas do Les Legions Noires, além do conhecimento do garoto em relação ao Garage Band, fez com que a banda começasse a gravar todas as suas músicas no conforto de suas próprias casas.


Após o famoso split, que rendeu turnês pelo Japão, Europa e EUA, a banda lança mais um split com o obscuro projeto AVM, fazendo dois covers de Septic Death. Na sequência Dwid demite toda banda e a parceria D.H + ORR é formada, assim lançando o EP  VVe are The End/Beneath Black Flames VVe ride  e o split com o grupo britânico Rot In Hell, já consolidando a nova direção. Apesar de ser uma dupla na composição, o grupo ainda existe com uma formação ao vivo para shows.


Nesse meio tempo de mais apresentações, foi lançado em 2012 o EP Detonate Worlds Plague, completamente influenciado pelo hardcore e metal nipônico de bandas como GISM, Syudan Jisatsu e Zouo. Outra surpresa é que Orr se encarregou de gravar todos os instrumentais no álbum, numa produção completamente crua, barulhenta e agressiva, fazendo este o trabalho mais "na cara" do grupo.


Em junho desse ano (2013), está programado pra sair o álbum Suicide Black Snake, que conta com algumas faixas do EP anterior sendo retrabalhadas e músicas novas. Entre essas novidades está a balada There Ain't No Living In Life, que surpreendentemente mostra uma influência dos riffs de John Christ (conhecido pelo seu trabalho na banda solo de Danzig) e a aparição de uma harmônica. 


Com a história e com os discos do Integrity, podemos notar que a banda nunca tentou se render a uma conformidade sonora, sempre trabalhou horizontes diferentes e indiretamente influenciou uma nova geração de bandas que tentam fazer uma música monstruosa sem se isolar a meros rótulos. Porém a fúria contra a humanidade e o senso de terrorismo criativo que assola a mente de Dwid e todos os participantes dessa banda ainda são o mesmo. Só eles saberão agora qual será a nova era desses pregadores do apocalipse sônico...

Integrity - Os pregadores do hardcore apocalíptico (parte 2): A reencarnação como Integ2000


Voltamos de novo com a história do controverso, bizarro e furioso grupo de Cleveland, Ohio. Na primeira parte foi abordada a "era Melnick", que contém os álbuns clássicos da banda. Depois de Seasons In The Size of Days, o Integrity se dissolveu e ficou em silêncio. Mas não por muito tempo...


Em 1999, Dwid volta com a banda, com uma nova formação e sob o nome Integrity 2000 (ou Integ2000, como preferir). Nessa formação havia membros do grupo de metal alternativo Mushroomhead (Dave, Skinny e J. Popson). O primeiro lançamento dessa formação curiosa foi um álbum homônimo, com um apelo mais metalizado e grooveado, o álbum foi tudo menos bem recebido entre os fãs. Além da mudança sonora, uma participação especial no disco chama a atenção, que é nada mais nada menos que Derrick Green do Sepultura, que canta na versão acústica/retrabalhada do som Eighteen, que estava no primeiro álbum da banda.


No meio tempo fizeram um split com Fear Tommorow, que ainda rumava no metal grooveado, porém esse já tinha pitadas de thrash. Além de gravarem um cover surreal de Orgasmatron para um tributo ao Motörhead, nesse cover a semelhança entre os vocais chega a ser absurda:


Após o infame álbum, outro disco foi lançado no ano seguinte, com o nome Project: Regenesis, o álbum contava com 5 músicas novas e 5 covers, um do Slayer e outros absurdamente inusitados como Billy Idol, Dona Summer e Gary Numan.


Depois disso o grupo sofre com outra mudança de formação e em 2001 é lançado o último álbum dessa era experimental, Closure mostra um lado mais sombrio e melancólico na arte destrutiva de Dwid. As influências de industrial e darkwave são muito bem vistas, o uso de elementos eletrônicos, samples, vocais limpos, spoken words e noise perpetuam quase todas as faixas, além de músicas acústicas. Um dos melhores e até mais bem recebidos dos trabalhos dessa era infame. Após isso o Integrity faz outra pausa que não dura muito tempo...


Voltando a ativa em 2003, Dwid ressurge com outra formação, contando com ex-membros do One Life Crew (Blaze e Chubbz) e  Mike Jochum nas guitarras. Com essa formação sai o álbum To Die For, pela Deathwish Records, selo de Jacob Bannon, vocalista do Converge. Com esse disco a banda faz a boa e velha mistura de metal e hardcore que sempre fizeram, rendendo pérolas como To Die For, Heaven's Final War  e Taste My Sin. Apesar do som "modernizado", o disco foi bastante bem recebido pela fanbase, mas a popularidade sempre foi a menor das preocupações de Dwid.


Desde o ocorrido, a banda não toca nenhuma música dessa época, além de que mal houveram shows durante a era "Integ2000", aliás hoje em dia Dwid gosta de nomear a tríade de 1999-2001 como um projeto paralelo e não como discos e trabalhos do Integrity.


Na próxima parte: Ressurgindo das cinzas mais uma vez, as gravações em casa e o novo rumo da banda com as eras Jochum/+Orr...

Integrity - Os pregadores do hardcore apocalíptico (primeira parte)


Quando o Maurício criou esse blog, sabia que seria inevitável ele falar de Poison Idea um dia, assim como pra mim seria inevitável falar sobre esses caras aqui. Essa banda é uma das poucas na qual posso dizer que sou "fã", os caras sempre me influenciaram como músico e pessoa. Então vamos falar sobre a entidade negra do hardcore: Integrity.

Como o post vai ser MUITO longo, terei que dividí-lo em duas partes, nessa primeira abordarei o que muitos admiradores consideram como a "época de ouro" da banda, que contava com os irmãos Melnick e rendeu as obras mais famosas do grupo:


Formado em 1989, a banda teve inúmeras mudanças nas suas formações, seu único membro fixo e mentor do grupo é o vocalista Dwid Hellion. Influenciados por bandas como Mighty Sphincter, Septic Death, Motörhead, Zouo, GISM e Samhain, os caras criaram uma sonoridade que para alguns pode ser denominado como os primórdios do metalcore, para outros o início do hardcore "negativista", mas o que se pode dizer que eles são uma banda única e sem precendentes.


Além da música, suas letras apocalípticas, as imagens e histórias bizarras que envolvem o seu infame frontman fazem com que a banda criasse um status cultuado e divisor. Não é o tipo de música que cria meios termos.


Começando com o nome Diehard em 1988, após um ano de duração a banda trocou de nome e mudou sua formação, mantendo apenas Dwid nos vocais e Aaron Melnick nas guitarras. Em 1990 foi lançado o primeiro EP In Contrast Of Sin, pela Victory Records, nesse trabalho vemos um hardcore bem típico dessa época de transição que havia nos Estados Unidos, flertando com grooves, sing alongs e andamentos arrastados vindos do metal.


Em 1991 é lançado o debut Those Who Fear Tomorrow, mantendo a linha do seu EP, a banda começa a usar temáticas mais obscuras para suas letras, além de flertarem mais e mais com o metal, o uso de bumbo duplos e solos mais frequentes. A partir desse disco o grupo começou a ter uma grande notoriedade, em 1992 houve o controverso show "Palm Sunday" no bar local Peabody's, onde Dwid provocou um membro no público, essa pessoa tentou esfaqueá-lo e no fim acabou cortando o cabo do microfone enquanto cantava a primeira música do show. Resultado: Após o show, Dwid, a banda e boa parte do público perseguiu o agressor pelas ruas e espantando-o do local (abaixo há um vídeo do show com a cena da briga).


Com outra troca de formação, que rendeu a entrada do irmão de Aaron, o baixista Leon Melnick, além de Frank Novinec junto nas guitarras (conhecido hoje pelo seu trabalho no Hatebreed), em 1995 é lançado o álbum Systems Overload, outro sucesso da banda. Apostando em músicas mais rápidas e viscerais (No One, The Screams) e músicas com temáticas mais diferentes (como Armenian Persecution, escrita pelos irmãos Melnick, que tem descendência armênia) e um pequeno traço dos experimentalismos da banda na faixa Unveilled Tomorrows, que sampleia um sinfonia de Schnittke e o uso de elementos de noise.


Em 1996, foi lançado o EP Humanity Is The Devil, com a artwork feita pelo Pushead (vocalista do Septic Death, uma das maiores influências do Integrity). As mesclas com o metal ficam cada vez mais notáveis e também usando de elementos do noise (Dwid tinha um projeto do gênero chamado Psywarfare) na música, além dos conceitos sobre a Process Church Of Final Judgement serem mais visíveis nas letras, o EP é considerado o magnum opus do grupo. De acordo com a banda e o exército americano, as músicas desse trabalho são usadas para táticas de guerra do PSYOPS para torturar e interrogar presos. Segundo Dwid, que sempre gostou do termo de "música como uma arma", é um orgulho paradoxal, pois não esperariam ver ela ser usado nesse tipo de método.


Em 1997, Seasons in the size of Days foi a última obra do que os fãs consideram a "Era Melnick" (ou a era dourada da banda, dependendo do público...),  usando de elementos acústicos e também músicas de sonoridade arrastada (doom/sludge?) e thrash metal (Season Decided Fate).  As líricias e conceitos sobre misticismo, metafísica e terrorismo religioso envolvem essa obra, com a faixas polêmicas como Sarin (sobre os ataques terrorista em 1995 no Japão feito pelo culto religioso de Shoko Asahara) e Burning Flesh Children to Mist, que sampleia os últimos momentos do culto de Jim Jones, onde eles e seus seguidores cometem um suicídio coletivo. Depois a banda se separaria e encerraria as atividades, por um tempo...


Todos os álbuns da banda estão disponíveis para download grátis no site da gravadora de Dwid, Holy Terror Records, apenas clicar nesse link e escolher o que quiser, além de trabalhos de outras bandas lançadas pelo selo.

No próximo post: O retorno como Integrity 2000, To Die For e a era Jochum/+Orr.